Como o Brasil de 2006, que reuniu craques como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano, acabou decepcionando na Copa do Mundo da Alemanha?
Quais eram as deficiências do Quadrado Mágico? Será que o maior problema era realmente defensivo?
Aliás, já adianto que não! Definitivamente o maior problema era no ataque!
Nessa análise vamos nos aprofundar no funcionamento da seleção brasileira do técnico Carlos Alberto Parreira.
Assim, entender como a enorme expectativa em torno dessa equipe se transformou em uma grande frustração.
Boa leitura!
Os Problemas de Ataque do Brasil 2006
Primeiramente é importante destacar que contra a França, o Quadrado Mágico só atuou nos 30 minutos finais da partida. Parreira iniciou com Juninho Pernambucano no lugar de Adriano.
Mesmo assim, talvez a questão que mais incomode seja pensar como um ataque formado por todos esses craques não conseguiu produzir uma única chance clara de gol contra a França.
O Brasil não produziu chances claras de gol contra a França, mesmo com o Quadrado Mágico.
Quando o assunto é o Brasil de 2006, muito se fala dos problemas defensivos, mas pouco se fala nos problemas de ataque.
Fato é que o posicionamento de ataque do time desfavorecia as características dos jogadores.
Ronaldo, Ronaldinho e Kaká se aproximando para trabalhar jogadas.
A princípio pode parecer uma boa ideia aproximar os craques e deixá-los livres para criar e improvisar jogadas.
No entanto, a verdade é que a seleção não era um time de tabelas rápidas. Pelo contrário…
Muitos Craques mas que Não se Complementavam
Já parou para pensar que quase todos os atletas tinham como principal característica as arrancadas individuais?
Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Adriano, Roberto Carlos, Cafú, Zé Roberto, e até mesmo o zagueiro Lúcio, todos eram atletas de arrancadas.
Isso acabou sendo um enorme problema para o jogo coletivo da seleção.
Na linha defensiva três jogadores eram de arrancadas: Cafú, Lúcio e Roberto Carlos.
Enquanto o posicionamento coletivo sugeria tabelas, a intuição de cada um sugeria arrancadas.
O jogo aproximado pedia poucos toques na bola, mas a característica individual produzia exatamente o oposto.
Ronaldinho Gaúcho de Costas Para o Gol
Ronaldinho Gaúcho passou por várias transformações ao longo de sua carreira, mas jogar de pivô, definitivamente, não foi uma delas.
No entanto, Parreira escalou o Brasil com dois atacantes: Ronaldo pela esquerda e Ronaldinho Gaúcho pela direita.
Ronaldinho Gaúcho de costas para o gol, fazendo o pivô.
Então, contra a França, Ronaldinho Gaúcho recebia a maioria das bolas de costas para os zagueiros, exigindo funções de pivô.
Mesmo que seu auge no Barcelona tivesse sido jogando aberto pela esquerda, exigindo que ele partisse com a bola dominada de frente para o seu marcador.
Dessa forma, um dos craques que poderia ter desequilibrado, desapareceu encaixotado no meio do bloco da França.
Problemas Defensivos do Brasil de 2006
A estratégia da França era toda baseada nas bolas longas. Desde a sua saída de bola, até a criação de jogadas de finalização.
Como o técnico Raymond Domenech confirmou posteriormente, o objetivo inicial era não perder a posse de bola na defesa. Dessa maneira, não alimentar o contra-ataque rápido do Brasil.
O Brasil inicialmente se defendia com um losango no meio de campo, o que exigia dos laterais (Cafú e Roberto Carlos) avançarem para dar o primeiro combate.
Henry pronto para atacar as costas do Cafú e tirar o Lúcio do corredor central.
Então, as jogadas da França buscavam sempre as costas dos laterais com movimentações em diagonal do meio para o lado.
Por sua vez, essa movimentação acabava tirando um dos zagueiros do corredor central, e aumentava o potencial das jogadas de finalização.
Zidane e Henry Desequilibram Para a França
A atuação de Zidane ficou marcada pela plasticidade e elegância das jogadas, mas Henry teve papel igualmente importante na classificação.
Zidane apareceu para ganhar as sobras de ataque do Brasil e “esconder a bola”. Isso esfriava os ataques brasileiros e dava a oportunidade da França contra-atacar.
Zidane aplicando um chapéu em Ronaldo.
Já Henry foi o grande responsável pelas disputas das bolas longas e as movimentações em diagonal.
Dinâmicas fundamentais para que o time avançasse em campo e conseguisse ter um bom volume ofensivo.
Além disso, em muitas dessas disputas pelas bolas longas da França, o Brasil cometia faltas.
O que acabou mostrando a maior deficiência da seleção brasileira…
O Pecado Capital – A Postura nas Bolas Paradas
Então, não por acaso, a França teve um grande volume de bolas paradas nessa partida.
Mas não só isso, além da quantidade de oportunidades, o potencial de perigo foi bastante alto.
Muitas oportunidades em bolas paradas, com potencial de perigo alto.
Isso porque o Brasil mostrava o seu pior lado nessa situação de jogo.
O posicionamento era ruim, mas o pior era o nível de concentração baixíssimo.
França finaliza bola parada em superioridade numérica. 5 contra 4.
A França chegava a encontrar superioridade numérica para finalizar jogadas de bola parada.
Não foi um lance isolado.
Explorando a desatenção da defesa brasileira nas bolas paradas, a França construiu grandes chances de marcar.
No lance do gol, a França ataca com 5 contra apenas 3 brasileiros.
E marcou!
Em nova oportunidade de bola parada, Zidane acionou Henry completamente livre na segunda trave.
O detalhe é que a França invadiu a área com 5, enquanto o Brasil se defendia com apenas 3 jogadores.
Brasil 2006 – Os Problemas do Quadrado Mágico
A França não vinha apresentando um futebol de outro mundo.
Mesmo assim, a estratégia foi suficiente para neutralizar completamente o ataque brasileiro, além de explorar as brechas defensivas.
Já o Brasil acabou desperdiçando uma de suas grandes safras de craques, não conseguindo transformar um grande elenco em uma grande equipe.
Grande abraço e até a próxima!