A Verdadeira História do Voleio Épico de Zidane

Você já deve ter visto incontáveis vezes esse voleio épico de Zidane na final da Champions League 2001/02, contra o Bayer Leverkusen.

Um gol desses a gente nunca cansa de assistir. Toda vez que esse lance é repetido, reforçamos a lembrança da grandeza desse Real Madrid 2001/02.

Time ofensivo, táticas eficientes, muito talento individual, grandes estrelas atuando junto por um único objetivo.

O problema é que isso é uma grande ilusão.

Pois é, se você acompanhou a distância essa constelação de estrelas do Real, pode ter sido levado a acreditar em uma mentira.

A única verdade nisso tudo, é que de fato era um time de craques. O funcionamento do time baseava-se nisso, e só. Ou seja, estratégicamente o time tinha sérios problemas, considerando um elenco dessa magnitude.

Então, se você quer saber a história não contada da grande final da Champions esse texto é para você. Vou te mostrar tudo o que aconteceu, e em qual gaveta você deve guardar esse Real Madrid.

A Ilusão

A grande maioria das pessoas está presa a um mundo de fantasias por dois motivos. Primeiro, não importa nada que aconteça em campo que não seja gol. Segundo, nenhum time presta a não ser o campeão.

Essa mentalidade é muito enraizada em nós brasileiros, e isso nos impede de entender muito sobre estratégia de futebol.

O famoso “jogou onde?” e o “ganhou o que?”. A famosa “carteirada” adaptada ao mundo do boleiro.

Claro que como humor é engraçado. Mas tem gente que leva a sério, tem gente que usa isso como argumento. Aí é problema! Alimenta um novo 7 a 1 (mas isso é assunto para outro texto).

Enfim, convido você a voltar no tempo…

Há pouco mais de 18 anos atrás, no dia 15 de maio de 2002, entravam em campo Bayer Leverkusen e Real Madrid, para a grande decisão da Champions League.

Quantos brasileiros tinham acesso ao jogo ao vivo? Imagino que muito menos do que hoje. E mesmo hoje, não são muitos os que assistem aos jogos completos.

Sabemos que a grande maioria prefere ver o resumo do jogo, comentado, em algum programa esportivo. A maioria gosta de polêmica, e não de futebol!

Assim, será que uma interpretação com base em gols e títulos é a melhor forma para se entender futebol de verdade?

Se você gosta de ver apenas gols e idolatrar o campeão, sem problemas! Guarde sua corneta, guarde sua prancheta de técnico, e limite-se a torcer!

Agora, se você gosta do seu time, ou de futebol em si (como eu), e quer fazer críticas construtivas, entendendo de verdade o que acontece em campo, você precisa de mais informação antes de tirar qualquer conclusão.

Problemas do Real Madrid

Se olharmos a escalação do Real Madrid para esse jogo, podemos concluir que o time era muito ofensivo. Zidane, Figo, Morientes e Raúl, quatro jogadores extremamente técnicos e fortes no ataque.

Real Madrid 2001-2002 - Escalação Final UCL

Mas na prática o que aconteceu foi que o time não teve nenhum volume de jogo ofensivo. Tinha sérias dificuldades de criar jogadas de finalização, e o pior, mal conseguia avançar em campo com a bola dominada.

Tudo isso começava com o problema sério na hora de recuperar a posse de bola.

O time marcava com apenas seis jogadores. Os outros quatro apenas fechavam o espaço (e olhe lá).

Então, o Bayer Leverkusen dominou as ações do jogo, teve muito mais posse de bola e criou um volume de finalizações maior.

O Real Madrid, marcando com 6 não conseguia recuperar a bola, e dependia dos erros do adversário. Além disso, mesmo quando recuperava, não conseguia avançar. Esbarrando sempre na forte marcação da equipe alemã.

Por consequência, sem avançar em campo, teve pouquíssimas chances de finalização.

Taticamente foi um baile de Klaus Toppmöller em Vicente del Bosque.

César e Casillas Salvando o Dia

Além do mais, o Leverkusen com um volume expressivo de posse de bola, criou várias chances de gol. Algumas delas muito perigosas.

César salvou uma cara a cara, e ficou exposto muitas vezes. Acabou sendo substituído no segundo tempo por conta de uma torção no tornozelo esquerdo.

Um jovem goleiro de 20 anos, chamado Casillas, entrou e operou pelo menos três defesas impressionantes no final da partida.

Veja alguns desses lances abaixo:

 

Em resumo, o Leverkusen teve excelentes oportunidades de sagrar-se o grande campeão da Europa.

Voleio Épico de Zidane

O que deu o título ao Real Madrid não foi superioridade estratégica, foi a eficiência de seus grandes craques. Lampejos de talentos individuais indiscutíveis.

Dessa forma, a verdadeira história do voleio épico de Zidane, é a do talento, da eficiência. Duas chances, dois gols. Um de Raul, um de Zidane. Craques decisivos em jogos grandes.

Voleio Épico de Zidane - Comemoração

O Real Madrid não criou absolutamente nada além disso, mesmo com esse elenco recheado de estrelas. Salvo algumas oportunidades de contra-ataque quando o Leverkusen se lançava para o tudo ou nada, inclusive com seu goleiro.

Essa é a verdade que os fatos do jogo nos apresenta…

O time tinha sérios problemas de desequilíbrio estratégico.

Tanto é que terminou a La Liga na terceira colocação e perdeu a Copa del Rey para o La Coruña. Além de sofrer derrotas expressivas na temporada, como o 4 a 2 contra o Las Palmas, o 3 a 0 contra a Real Sociedad, e colecionar outras diversas apresentações decepcionantes.

Assim, nunca poderemos dizer que esse Real encantava pela variação tática, pelo jogo coletivo, pelo jogo ofensivo. Tudo isso é uma grande ilusão.

Grande abraço e até a próxima!

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Raul Ando
Raul Ando. Analista de futebol profissional. Apaixonado por táticas e estratégias de jogo. Produtor de conteúdo no Categoria Canal, Futebol Cursos e Núcleo de Análise Tática.
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