Certa vez, conversando com um técnico profissional ouvi que o momento da preparação mais detestado pelos atletas era a análise de vídeo.
Bastava o analista colocar o vídeo, para que os bocejos começassem a aparecer.
Então, mesmo que a dedicação tivesse sido grande, e as informações fossem úteis, os atletas simplesmente não absorviam.
Dessa maneira, as vantagens que a análise tática poderiam produzir não eram transferidas para dentro de campo.
Tudo por um problema de comunicação ineficiente.
Quem teria a coragem de admitir que não entendeu, fazendo o analista repetir tudo?
Quem nunca se distraiu em uma aula e permaneceu em silêncio quando o professor perguntou sobre dúvidas?
Essas distrações são comuns, mas ocorrem com mais frequência do que deveriam.
Nesse artigo vamos mostrar como uma análise tática pode ser pensada para ser eficiente, e de fato gerar vantagem dentro de campo.
Diversos Enfoques de Análise Tática
No mundo do futebol, a análise tática não é uma abordagem única e uniforme. Existem diferentes tipos, não só em termos de qualidade, como em termos de enfoque.
Algumas são focadas em identificar características individuais, outras em estratégias coletivas. Pode ser uma análise de curto prazo, ou com um período de observação mais longo.
Além disso, o próprio formato final pode ser bem diferente. Desde arquivos carregados de textos, tabelas, gráficos, passando por apresentações de slides, até puramente palestras sem mídia de apoio.
No entanto, as mais utilizadas atualmente são as análises táticas de vídeo. Essas possuem a vantagem de carregar um nível de informações muito mais relevante sobre o jogo em si.
Afinal, futebol é movimento.
A comissão técnica pode se perder na eficiência da comunicação, querendo mostrar “tudo o que foi analisado”, sem focar nas informações que podem ter maior impacto.
A análise tática acaba virando mais um relatório observacional, do que propriamente uma fonte de informações preciosas que tem o poder de gerar vantagem.
As informações acabam soltas, sem propósito, sem um desfecho. Ou ainda, a história fica sem um final, uma conclusão.
É aqui que a essência da boa análise se revela.
Eficiência na Comunicação
A apresentação da análise pode ser comparada com uma aula expositiva. Onde o analista é o professor, e os jogadores são os alunos.
Um estudo em Harvard sobre engajamento em salas de aulas trouxe conclusões interessantes. Em suma, estratégias passivas de ensino são consideravelmente menos eficientes em comparação àquelas que os alunos precisam colocar a mão na massa.
Então, quanto mais tempo os jogadores ficam passivamente recebendo informações, a absorção de informações tende a cair.
Dessa maneira, para uma comunicação eficiente as informações devem ser bem filtradas.
A partir do limite, tudo o que for explicado será perdido.
Portanto, a única maneira de maximizar a eficiência da comunicação é focar no que é mais importante.
Mas como filtrar as informações? Como ter certeza do que realmente fará a diferença em campo?
As melhores análises são aquelas que vão direto ao ponto, aquelas que são cirúrgicas.
Assim, para técnicos e analistas, o desafio é identificar e transmitir apenas os insights mais cruciais, garantindo que cada palavra e imagem faça a diferença no campo.
Forças e Fraquezas – A Moral da História
Já escrevi outro artigo sobre como fazer uma análise pré-jogo eficiente, recomendo a leitura.
De forma resumida, a melhor maneira de fazer uma análise cirúrgica é manter a “moral da história” sempre em mente.
É isso que diferencia um relatório observacional de uma análise que faça recomendações certeiras, e que sejam fáceis de serem assimiladas.
A “moral da história” no futebol estará sempre relacionada a identificar o que cada ponto observado pode gerar de força ou fraqueza.
Nesse caso, a pesquisa mostra que o time usa o 442, e o ponta marca mal. A “moral da história” é que existe uma fraqueza naquele setor.
Dessa forma, a informação que deve ser transmitida aos atletas é apenas que existe uma oportunidade de o lateral atacar por ali. Simples e direto.
Nesse caso, menos é mais.
A Pesquisa na Análise Tática
No entanto, para chegar a conclusões que criem vantagens dentro de campo, não existe atalho, a pesquisa deve ser extensa.
Ou seja, se na apresentação o objetivo é ser certeiro, na pesquisa prepare-se para acumular o máximo de informações possíveis.
Para isso você pode utilizar o modelo de análise que mais preferir. Por exemplo, o modelo tradicional de fases e transições.
Mas nada impede que você desenvolva o seu próprio modelo, ou adapte um modelo existente para as suas necessidades.
O que realmente importa na fase de pesquisa é trazer informações para responder duas questões:
- O que a equipe faz em cada momento do jogo?
- Qual é o nível de eficiência de cada comportamento?
Em outras palavras, conseguir prever o que a equipe vai fazer, e se aquilo tende a funcionar ou não.
Portanto, independente do modelo utilizado, se o seu foco for responder essas duas perguntas em cada ponto analisado, sua pesquisa será muito mais rica em informações úteis.
Como Entregar a Análise Tática
Como tudo na vida, quando precisamos produzir vantagens, devemos nos beneficiar dos recursos à nossa disposição.
Hoje a tecnologia é a grande aliada do analista.
Uma informação com um longo bloco de texto, tem menos chances de atrair a atenção de mais pessoas, do que se fosse apresentada em vídeo.
O vídeo é o elemento mais eficiente para comunicar ideias no futebol. Afinal, uma imagem vale mais que mil palavras.
Entretanto, é preciso não cair na armadilha de rechear demais sua análise de vídeo e torná-la entediante.
Isso fará com que informações valiosas se percam no processo, e toda sua pesquisa vá por água abaixo.
O objetivo nessa etapa é construir argumentos, e fazer recomendações.
Em outras palavras, explicar o que tem mais chances de funcionar e o porquê.
Afinal, não basta comunicar a ideia, é preciso convencer quem a recebe de que ela pode funcionar.
O Segredo da Didática – Contar Histórias
Dessa maneira, sua apresentação final deve ser focada em recomendações.
Não basta dizer que uma equipe sofre muitos gols de cabeça, é preciso identificar qual é o setor do campo onde a origem do cruzamento tem mais espaço, e qual destino é mais vantajoso.
Não basta identificar que marca muitos gols de escanteio, é necessário identificar quais são os jogadores chaves e as movimentações que eles fazem.
O algo a mais aqui é se forçar a fazer recomendações bem específicas.
Isso porque, essa estrutura de apresentar a informação e fazer uma recomendação, é a melhor maneira de tornar sua apresentação didática.
Pense a entrega final como uma história dividida em vários capítulos.
Esse é o maior desafio!
Para isso você pode contar com o nosso portal Futebol Cursos para saber a melhor forma de neutralizar cada jogada, ou explorar cada brecha.
Lá você encontrará tudo para tornar sua análise didática e profissional. Além de aprender técnicas avançadas tanto para analisar, quanto para criar suas edições em vídeo.
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Use a Análise Tática Para Criar Vantagens
Em suma, nem sempre aquela apresentação cinematográfica, aprofundada, é a que mais gera vantagens dentro de campo.
A análise tática está mais para uma flecha certeira no alvo, do que uma metralhadora giratória atirando para todos os lados.
Evite desperdiçar o tempo, e, consequentemente, a confiança de todos.
Portanto, apresente apenas as informações que gerem vantagem, e evite a sobrecarga de informações. Mesmo que sua pesquisa tenha sido vasta e extensa.
Dessa maneira, o momento da apresentação da análise não vai ser o mais entediante, mas sim uma rica fonte de informações que podem mudar o rumo de uma partida.
Grande abraço e até a próxima!