O Futebol Resultado Está Matando o Futebol Entretenimento

Para você o que representa o futebol? Questão difícil! 

Se você está nesse blog agora, é porque não se contenta com o conteúdo tradicional sobre o nosso tão querido esporte. Você percebe que há sempre algo a mais, percebe as nuances, as estratégias, o mérito de cada gol. 

Hoje eu vou falar sobre o futebol voltado ao resultado, e como ele está matando o futebol voltado ao entretenimento. Pois é, esse mesmo esporte que te encantou em algum momento da sua vida, corre sérios riscos de entrar em extinção

Resultado e entretenimento podem caminhar juntos? Claro que sim. Uma vez que, não necessariamente, um exclui o outro. 

Os problemas são: o processo e a prioridade. Em outras palavras, como as coisas são feitas, tendo em vista os principais objetivos.

Enfim, vou explicar o porquê a priorização do resultado, na grande maioria dos casos, acaba por sepultar a diversão do esporte. 

A Praga do Egoísmo

Futebol é um mercado colossal, onde o amadorismo ainda está presente em diversas esferas que o permeiam. Assim, onde tem muito dinheiro, muito amadorismo e falta de regulamentações transparentes, os interesses pessoais sempre irão se sobrepor aos coletivos.

Salvo raríssimas exceções. 

Os interesses pessoais já levaram (e ainda levam) grandes clubes à falência. Aliás, isso não é uma exclusividade do Brasil!

Vamos falar aqui de um problema que acontece frequentemente, não sempre, mas que você já deve ter percebido de alguma forma. 

Exemplo clássico, uma diretoria decide contratar um técnico, e três meses depois (muitas vezes menos) decide demiti-lo. Quase na totalidade dos casos, o erro (duplo) é da diretoria. Uma decisão errada que se desdobra em outra decisão errada.

Agora eu te pergunto, quem é o mais prejudicado nessa história?

Onde o Chicote Estrala

O treinador demitido, recebe a multa (ou ao menos deveria), e mesmo perdendo o projeto esportivo, não é o maior lesado. 

Os atletas continuarão em suas jornadas, cada um com seu contrato, cada um com seus interesses, à espera do novo comandante.

A torcida, em geral, ganha assunto para discutir ao longo da semana. Quem é o nome ideal? A demissão foi justa? Os jogadores derrubaram o técnico? A diretoria está de sacanagem?

Os dirigentes, muito menos, jamais serão responsabilizados financeiramente pelas decisões erradas, no máximo algum protesto da torcida, muitas vezes bancado pela oposição interna. 

Agora e o clube? Depois disso tudo, o que sobra para o clube? 

Prejuízo! Financeiro e esportivo. Não basta acabar com o fluxo de caixa tem que perder tempo de trabalho. Só quebrar o clube não é o suficiente, tem que destruir o time. 

Esse cenário se repete há anos, e o que muda? Nada! Mesmo quando muda alguma estrutura, as coisas chacoalham, mas repousam novamente nas mesmas brechas de interesses pessoais

Dessa maneira o jogo de poder continua se perpetuando, apesar dos danos aos clubes. 

Resultado Está Matando o Entretenimento

Então, esse é o cenário quando um treinador assume uma equipe. Os mais experientes sabem muito bem como jogar esse jogo. Sabem que não adianta chegar e reinventar a roda, o negócio é jogar pelos três pontos, jogo a jogo. 

O treinador brasileiro não está ultrapassado, ele apenas convive em um ambiente onde o futebol entretenimento não vai levá-lo a lugar nenhum. Não é que o treinador não sabe armar o time “para frente”, “para dar show”, ele simplesmente opta por não fazê-lo, sob o risco de ser demitido e queimado para sempre no futebol. 

É que acontece, o futebol dificilmente dá segundas chances, lembre-se da profecia autorrealizável que foi tema deste outro artigo

De forma resumida, se o técnico assume riscos dentro de campo, fora dele está colocando seu emprego em jogo. Aliás, não apenas seu emprego, como também sua carreira

Então quando você cobra o seu time por resultados, não pode se dar ao luxo de querer entretenimento. E se você quer entretenimento, vai ter que aprender a conviver com resultados negativos muitas vezes. 

O Custo do Futebol Entretenimento

Futebol entretenimento leva mais tempo, e mais prejuízo para ser desenvolvido. É um projeto esportivo de médio e longo prazo. Necessita convicção, apoio, competência. 

No cenário nacional atual, o futebol entretenimento está morto. Não tem como se desenvolver com a cultura atual da grande maioria dos clubes. 

Portanto, o problema não está em gostar de vencer, querer resultado. Isso é saudável, é a grande beleza em qualquer disputa esportiva. Motiva as grandes superações. 

O problema é o atalho. Travar o jogo, rezar por uma bola, e deixar o sucesso nas mãos do acaso. Isso pode até trazer algum resultado no curto prazo, desde que a sorte resolva favorecer. 

No entanto, no longo prazo é isso que já estamos vivendo, futebol brasileiro perdendo espaço para outros esportes e encantando cada vez menos

Para aqueles, que como eu, se encantaram com o futebol lá atrás, só nos resta consumir outras ligas fora do país. Ou alguns seletos jogos entre as poucas equipes brasileiras que estão conseguindo aliar resultado ao entretenimento

Defenda os interesses do seu clube, e salve o futebol entretenimento!

Opinião
Raul Ando
Raul Ando. Analista de futebol profissional. Apaixonado por táticas e estratégias de jogo. Produtor de conteúdo no Categoria Canal, Futebol Cursos e Núcleo de Análise Tática.
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