Quais são os melhores caminhos para o gol no futebol moderno?
Será que existem jogadas que funcionam melhor em cada liga nacional?
A resposta é sim!
Cada campeonato tem um perfil diferente, não só em termos de jogadas utilizadas, como também nas mudanças de estratégias após o gol sair.
Isso porque a cultura de cada país influencia em diferentes níveis.
Por exemplo, existem países onde a torcida tende a não aceitar equipes que abram mão de pressionar a saída de bola.
Em outros países a cultura do resultado é mais forte. Então, as equipes podem “fechar a casinha” e vencer por um a zero sem desagradar o público.
Todos esses aspectos acabam moldando a maneira como os gols saem. Dessa maneira, analisar gols nas diferentes ligas, acaba sendo encontrar traços culturais que influenciam o jogo.
Boa leitura!
O Método Para Encontrar o Caminho do Gol
Para entender as diferenças no perfil de cada campeonato, vamos estabelecer uma média geral considerando cinco ligas nacionais: Brasil, Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha.
Assim, partiremos das médias de cada tipo de ataque para entender onde cada liga se diferencia das demais.
Os gráficos abaixo mostram como cada campeonato se diferencia da média.
Construção Rápida da Defesa
As construções rápidas desde a defesa são situações de ataque em que o adversário sobe o bloco de marcação para tentar pressionar a saída de bola.
Dessa maneira, o adversário está em organização defensiva mas está com o bloco avançado em campo.
Isso oferece a oportunidade de uma construção rápida desde a defesa, aproveitando os espaços que o bloco avançado pode oferecer.
Nesse tipo de ataque Inglaterra e Alemanha são os mais produtivos. Enquanto o Brasil é o time menos produtivo.
Falaremos mais adiante das características específicas de cada país.
Contra-ataques
Nesse cenário vamos considerar dois tipos de contra-ataques.
Primeiro, os contra-ataques iniciados na defesa. Aquelas jogadas que dependem de uma transição rápida, e nascem de uma posse de bola ofensiva do adversário.
Segundo, os contra-ataques iniciados no campo de ataque. Jogadas de pressão alta, ou erros de saída de bola. Situações que nascem de uma posse de bola defensiva do adversário.
Em relação aos contra-ataques, Inglaterra e Brasil têm números acima da média. Enquanto a Espanha é o país onde menos se produz gols atacando o adversário fora de sua organização defensiva.
Veremos mais adiante como os tipos de contra-ataques compõem as médias de cada país, e diferenciam casos onde os números são parecidos.
Ataque Posicional
Cenários de ataque ao bloco recuado, onde a equipe sem a bola está bem postada em sua organização defensiva.
Aliás, já escrevi aqui em outro artigo sobre a diferença entre jogo de posições e ataque posicional.
Esse tipo de ataque é composto por diferentes jogadas, no nosso critério fazemos a divisão em cinco tipos básicos: cruzamentos, infiltrações, profundidade, inversões e chutes de fora do bloco.
Espanha e Itália são os países que produzem mais gols de ataque posicional. Enquanto a Inglaterra é o país que depende menos desse tipo de ataque para decidir partidas.
Esse é o cenário que mais se repete em qualquer partida, mesmo assim as diferenças entre os países é bem marcante. Em especial, nas jogadas utilizadas como veremos mais adiante.
Bolas Paradas
Situações de bolas paradas também são compostas por diferentes situações de jogo. Então, para o nosso critério consideramos: escanteios, faltas assistências, faltas diretas, laterais na área e pênaltis.
Mais uma vez a diferença entre os países é considerável. Brasil e Alemanha são os países que mais dependem dos gols de bolas paradas. Enquanto Inglaterra, Espanha e Itália têm médias mais baixas e bem parecidas.
No entanto, a composição de cada país pode trazer informações interessantes para diferenciar as características de cada país nesse tipo de ataque.
Brasil – Bola Parada Decisiva
O caminho do gol no campeonato brasileiro passa pelas situações de bolas paradas.
O Brasil tem a maior média entre os países do estudo, 30,27% dos gols no Brasileirão saíram dessa maneira.
Além disso, é o time com menos gols de construções rápidas da defesa. Apenas 6,27% dos gols no campeonato brasileiro são produzidos assim.
Isso demonstra um traço cultural.
No Brasil a tendência é que menos equipes mantenham a marcação alta por longos períodos de tempo. O que faz com que as jogadas desse tipo tenham um volume menor, e consequentemente produzam menos gols.
Inglaterra – O Peso da Saída de Bola
Em contrapartida, na Inglaterra, a tendência é o oposto: mais times tendem a manter a marcação alta por longos períodos de tempo.
Dessa maneira, o duelo “marcação pressão” contra “saída de bola” é alimentado com mais frequência.
Isso faz com que a Inglaterra tenha o maior número de gols marcados em construções desde a saída de bola.
No entanto, esse duelo pode produzir outro tipo de gols: os contra-ataques de marcação pressão iniciados no ataque.
Isso também mostra outro traço cultural. A Inglaterra é o país que mais produz gols de contra-ataques iniciados no ataque.
Espanha – O Ataque Posicional
Na Espanha o cenário é diferente.
A importância dos gols de ataque posicional é a maior entre os países da pesquisa, 49,04% de todos os gols saem nesse cenário.
Esse é um dos traços culturais mais relevantes da pesquisa. De maneira geral, as equipes do campeonato espanhol tendem a se organizar antes de tentarem suas jogadas de ataque.
Isso faz com que o adversário tenha tempo de se recompor. Assim, o cenário de ataque ao bloco recuado têm um volume muito maior em relação aos outros, fazendo com que esse tipo de ataque tenha um peso maior na composição dos gols.
Itália – Longe dos Extremos
Considerando os quatro tipos de ataque, a Itália é o país que apresenta a menor diferença da média geral.
O campeonato italiano tem um número de gols acima da média em ataques ao bloco recuado.
A composição dos gols é semelhante a da Espanha. Mas dentro de cada cenário as jogadas são diferentes.
Enquanto na Espanha os gols têm uma distribuição maior entre as jogadas, na Itália os gols são mais concentrados em dois tipos: cruzamentos e infiltrações.
Alemanha – Velocidade e Chuva de Gols
A Alemanha é o país que produz mais gols de contra-ataques iniciados na defesa. No entanto, o não produz muitos contra-ataques iniciados no ataque.
Então mesmo que o contra-ataque de transições seja um traço marcante no país, os números gerais são abaixo da média (considerando os dois tipos de contra-ataques).
Aqui vem um fato curioso!
O número de gols marcados em construções rápidas da defesa é muito próximo ao da Inglaterra (9,76% dos alemães contra 9,90% dos ingleses).
No entanto, o número de gols marcados em contra-ataques de marcação pressão é bem menor.
Portanto, diferente da Premier League, onde o duelo “marcação pressão” versus “saída de bola” é mais equilibrado, na Bundesliga os números mostram que as “saídas de bola” são muito mais eficientes do que as “marcações pressões”.
Ou seja, na Inglaterra a pressão alta tende a gerar gols tanto para quem pressiona, quanto para quem é pressionado. Enquanto na Alemanha a pressão alta tende a favorecer as equipes que são pressionadas e têm uma boa saída de bola.
Como Acessar os Dados da Pesquisa
Você pode acompanhar nosso estudo de gols no Núcleo de Análise Tática.
A análise rodada a rodada dos gols nos permite traçar um panorama geral das forças e fraquezas das equipes.
Além disso, o conjunto de dados de cada liga pode render reflexões como as deste artigo.
De maneira geral, os diferentes caminhos do gol mostram como o jogo é praticado em cada país.
Mesmo na era do futebol globalizado, onde os atletas estão cada vez menos limitados pelas suas fronteiras de origem, ao que tudo indica, o gosto do público (esse sim predominantemente local) é o que determina como o jogo vai ser praticado.
Isso mostra como a força maior vem das arquibancadas!
Portanto, resta a elas conseguirem se libertar da manipulação, e quebrar o ciclo da espiral negativa que sepulta trabalhos promissores.
Grande abraço e até a próxima!